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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cidadão Instigado - Uhuu (2009)


O segredo para compreender o novo trabalho da banda cearense Cidadão Instigado (“Uhuu!”, lançado em agosto do ano passado) é a mais interessante e polêmica influência da banda: a música brega. Não é novidade que Fernando Catatau (Vocalista, guitarrista e principal compositor) e seus companheiros de banda mesclam elementos da dita música brega com elementos da dita música cult. Contudo, é na forma como essas duas vertentes se encontram que “Uhuu!” se mostra.

A articulação difícil entre dois universos tão distintos se deu, nos dois trabalhos iniciais do Cidadão Instigado, a saber “O Ciclo da Decadência” e “O método túfo de experiências”, a partir do estranhamento. O brega e o rock alternativo mantinham-se em evidência como contraponto e complemento. Sempre era muito bem demarcado quando a banda citava uma ou outra estética. Em “Uhuu!”, a diferenciação é mais difícil. As duas estéticas entraram de vez em harmonia e o ouvinte corre o risco de não saber onde começa e termina cada qual.

O resultado é um álbum mais fluido e menos esquisito. Mas que, ao mesmo tempo, pode ofender ouvidos mais radicais. Veja bem, a entrada do universo brega no rock alternativo, por vezes cabeçudo, é tão perigoso quanto a ida de um judeu a um piquenique de homens-bomba. O público que teoricamente escutaria Cidadão Instigado de maneira alguma ouviria qualquer medalhão da música brega/popular(esca). Por isso, a citação do brega só é permitida como concessão. E não é bem isso que acontece com a maçaroca de sonzinhos de sintetizador e batidas eletrônicas de “Uhuu!”.

O álbum começa com a promissora “O Nada”. “Abram as portas das suas casas, deixem os ladrões entrarem, eles vão tentar levar tudo o que puderem...”, eis o primeiro verso entoado pela voz fanha e desafinada de Fernando Catatau. Na primeira faixa, ainda existe um ranço cabeçudo dos trabalhos anteriores do Cidadão; ranço esse que felizmente ou infelizmente se desfaz nas próximas músicas. Uma evidência interessante da diferença demarcada com esse terceiro disco é o título. “Uhuu!” promete absolutamente nada. É quase mudo, enquanto nome. Já “O Ciclo de Decadência” e “O método túfo de experiências” emulam necessariamente viagens e estranhamentos. Menos pretensão?

A segunda música - “Contando estrelas” - é seguramente uma das melhores do disco e poderia facilmente ser executada em qualquer casa de luz vermelha do interior do Ceará. A terceira - “Doido” - é interessante e alterna momentos muito bons com momentos muito ruins, o que aliás é uma constante em “Uhuu!”. “Dói” e “Como as luzes” seguem o bom caminho aberto por “Contando estrelas”. “Ovelhinhas” - a sétima faixa - é um erro. Faz mais mal do que porre de vinho.Dessa forma, o álbum segue irregular. “A Radiação na Terra” não dá pra engolir.

“Deus é uma viagem” é mesmo uma viagem. “Homem velho” relembra alguns dos bons momentos de “Uhuu!”, mas, junto de “O cabeção”, fecha o disco com bem menos brilhantismo do que as primeiras músicas anunciavam. É o brega quem salva “Uhuu!” da cafonice.
No fim, “O método túfo de experiências” ainda é o melhor trabalho do Cidadão Instigado, o que não quer dizer que o primeiro e o mais recente sejam ruins. O Cidadão continua como uma das bandas mais diferentes e autênticas do rock nacional de hoje, o que por si só já vale uma audição.


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de quebra um vídeo com o Cidadão Instigado acompanhado de Rodrigo Amarante tocando 7° Andar dos Los Hermanos

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