O disco desta primeira semana de março é o independente "Enxugando o Gelo" do B Negão e os Seletores de Freqüência, Disco que traz diversas influências como Dub, Punk e claro, Rap. Segue abaixo uma entrevista que da pra ficar por dentro da "vibe" de B Negão e sua proposta sonora. A entrevista foi publicada na site Overmundo e foi concedida a Tiago Jucá Oliveira, da revista O DILÚVIO.
Ele está fora da mídia, não toca na Jovem Pan, não aparece no programa do Faustão e não toca no Planeta Atlântida. Mesmo assim, tem um disco que vende bem aqui e na Europa, e é convidado por vários artistas pra compor e gravar junto. Este é BNegão, ex-vocalista do Planet Hemp e do Funk Fucker, atualmente em carreira solo com os Seletores de Freqüência, além de comandar o Turbo Trio, sua nova experiência sonora. Ao lado de Totonho e do Mombojó, foi um dos pioneiros no Brasil a liberar para download na internet todas as faixas do CD "Enxugando o Gelo". Você pensa que ele perdeu com isso? Mas que nada! Depois de três anos continua sendo um dos 20 álbuns mais vendidos pela distribuidora Tratore e seus fãs pela Europa só cresceram graças ao mp3.Pow cara, tu já abraçou diversas bandeiras, como legalização da maconha, música livre e agora é o movimento anti-jabá...... to sempre incomodando eles, hehe.
Pois como está esta parada do Jabasta, que é o movimento contra o jabá?O movimento anti-jabá está ganhando corpo, botando a cara a tapa, porque a galera que tem exposição na mídia não mete a colher porque fica bolado com retaliação ou alguma coisa. Você tem que se desapegar de tudo, é muito mais fácil você se lascar do que a parada acontecer, mas só que é necessário a parada acontecer, colocar pra discussão. Pois do jeito que está não tem como ficar. Tem uma galera que é independente e todos passando por momentos absurdos, que não era pra ser isso. São várias rádios, e rádio é concessão pública. Então nego tem obrigação de tocar produção nacional. São concessões políticas, que neguinho vai dando pra um e pra outro, e aí faz um comércio da rádio dele. Comércio tem que ser no comercial, já diz o nome: comercial, na hora do intervalo. E ainda dão a desculpa covarde que a parada não tem qualidade. Então as paradas que tocam no mundo inteiro e não tocam aqui não tem qualidade pra cá, sacou. A qualidade no Brasil é medida pela grana. Aí chega a um ponto que Nação Zumbi não tem qualidade, Ivan Lins que ganhou um Grammy e é um cara considerado no mundo todo não tem qualidade, JT Meirelles não tem qualidade, Moacir Santos não tem qualidade, Mundo Livre S/A não tem qualidade. Só tem qualidade as 10 bandas que tocam no rádio. São pagas pelas multinacionais pra tocarem. Além de ser ruim pra quem ta ouvindo, é ruim pra economia, porque são 10 bandas que estão sugando até o último pingo de gota pra lucrar pra caralho, poderiam ser 100 bandas, ou milhares, que nem é fora do Brasil. Se fossem só 10 bandas no Japão ou na Inglaterra, eles iam quebrar. A visão estreita do capitalismo selvagem faz essa situação e a gente vai jogar essa areia no olho pra seguir incomodando.
Você liberou seu CD “Enxugando o Gelo” para download. Quais conseqüências desse ato?Vou te dar dois exemplos práticos: o medo da galera liberar a parada é a coisa interferir na venda. Eu botei o disco dois meses depois no Copyleft (trocadilho com copyright, copyleft pode ser traduzido para “deixe copiar”), que é o pai do Creative Commons, eu não tinha esta licença ainda. Desde sempre está no top 20 dos mais vendidos da Tratore, uma distribuidora que tem vários títulos. Sem contar a parte da Europa, nossos maiores cachês e nosso maior público estão lá hoje em dia, graças a situação ridícula do jabá. Na Europa existe o jabá também, a grande diferença é esta, não é que não tem jabá lá fora, tem, mas só que tem também. Aqui é só isso, oito ou oitenta, ou tem ou morre. Na Europa a gente toca pra mil pessoas em Londres, duas mil em Barcelona, tocamos no Roskilde Festival da Dinamarca, com cachê grandaço. Se juntar tudo que a gente ganhou em 2003 não dá metade do que ganhamos lá. A gente tá fazendo shows no circuito médio, não estamos fazendo no circuito mainstream e nem no circuito punk. Tocamos no Scotch Club em Barcelona pra duas mil pessoas, e a galera do lugar sabendo as músicas. E não era pra colônia brasileira, porque os brasileiros lá fora tão mais ligados em parada que toca na rádio, hit, pra lembrar do Brasil. E a gente não tem hit nenhum em rádio, haha, neguinho não vai nem conhecer.
Sua obra está aberta para obras derivadas? Em 2005 você participou da trilha do Narradores de Javé, composta pelo DJ Dolores, e modificada por vários artistas.Ela vai ser aberta. Isso é maneiro pra ver onde vai dar. A diferença em relação ao DJ Dolores é que ele escolheu a galera. Essa parada de deixar aberta é que tudo pode acontecer. É legal isso, internet é mais ou menos isso, eu não sabia se ia atrapalhar a venda, se ia tocar na Europa. Eu acreditei na parada e seja o que Deus quiser. Isso é importante, tirar a moldura do quadro o máximo possível, deixar a pintura ir até onde tiver que ir, pois um quadro a moldura limita. Eu não quero mais saber de expectativa nem de porra nenhuma, seguindo o preceito budista de não expectativa, a parada me levou a lugares que nunca imaginei na vida. Tô fazendo show com quase todas minhas influências. Fiz dois shows com Chuck D, tocando com o Public Enemy no palco, fiz show com Tony Allen e gravei com ele, batera do Fela Kuti, o cara que inventou o afrobeat. Aqui no Brasil toquei com João Parahyba, do Trio Mocotó. São caras que estão no meu DNA musical. Tudo isso porque tirei a moldura do quadro, sem se limitar. Você tem que deixar fazer o seu trabalho e deixar a parada fluir.
Link para baixar enxugando o gelo
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